Comparação: Porque achamos que a grama do vizinho é sempre mais verde?
Essa temática aparece com tanta frequência na clínica que resolvi explorar mais nesse post o porque tendemos achar que a grama do vizinho é mais verde que a nossa.
Embora a comparação aparece na clínica em formas de discursos como: “Não sinto que sou tão bom quanto ele”; “Sempre acho que o outro se comunica melhor do que eu”; “Ela é definitivamente mais atraente do que eu”; “Eu nunca serei tão bem sucedido quanto ela”, existem pelo menos dois tipos de lugares que podemos nos colocar quando estamos nos comparando.
Os dois lugares da comparação — de cima ou de baixo
Como podem notar, a comparação pode vir de um “ lugar debaixo”, onde a pessoa se compara as pessoas que (em sua interpretação) são melhores do que ela em algum aspecto. No entanto, a comparação também pode vir de uma “lugar de cima”, onde a pessoa se compara a pessoas que (em sua interpretação) são piores do que ela. Apesar de pensarmos que a comparação do “lugar de baixo” nos leva a pensar que não somos o suficiente, e que do “lugar de cima”, pensar que somos melhor do que algo/alguém, os dois tipos de comparação podem trazer consequências positivas ou negativas. Ou seja, se comparar de um lugar de baixo pode te inspirar ou te desmoralizar, enquanto ao olhar do lugar de cima pode te fazer sentir-se bem sucedido ou depressivo. No geral as pessoas associam a comparação a emoções e experiencias negativas como, medo, raiva, vergonha e tristeza.
A comparação diz, seja igual a todo mundo, mas melhor” — Brenè Brown
A comparação é um fenômeno social impossível de evitar. No entanto, todas as emoções e pensamentos que vem depois da comparação fazem toda a diferença quando o assunto é a sua formação da identidade.
Quando olhamos da perspectiva, quando alguém que encontramos é claramente melhor ou pior, nos não temos escolhas a não ser comparar. Pode ser difícil escutar alguém extremamente inteligente em um podcast, ou ver alguém extremamente bonito no supermercado, ou participar de uma reunião com pessoas extremamente bem sucedidas sem engajar na comparação social, não o importa o quanto a gente ‘ não gostaria de’. Mesmo se a gente escolha ou não fazer uma comparação, nós podemos definitivamente escolher se vamos deixar ou não essa comparação afetar nosso humor ou auto percepção” — Fujita, 2008
Pensando de maneira analógica, digo que se comparar seria como regar apenas a árvore do vizinho e esquecer de regar a sua própria. Claramente a árvore alheia irá crescer e dar frutos e flores maravilhosas, enquanto a sua seguirá seca e morrendo. Quando nos comparamos e esquecemos de olhar e reconhecer o que nós mesmo temos de bom(regando nossa própria árvore), alimentamos a ideia de que o outro (árvore do vizinho) é realmente melhor do que a nossa. Esse ciclo se repete e, ao longo do tempo, pode parecer impossível recuperar a si mesmo. No entanto, o simples fato de nomear o que você tem feito de bom, ou o que você tem de potencial, pode te ajudar a sair desse lugar de exclusivamente olhar para fora. Essa é uma habilidade treinável que pode te ajudar a lidar com a comparação.
De qual lugar você está olhando?
Outro aspecto importante relacionado a comparação é o lugar do qual nós estamos olhando. Se pensarmos em um mapa mundi redondo, desses de bola giratória que encontramos em escolas e em alguns quartos de crianças, se eu te pedir para você me mostrar o centro dele, onde me apontaria? Agora se eu estivesse sentada ao lado oposto da mesa, para onde eu apontaria? Quem estaria certo nessa disputa ao dizer que o centro do mapa estava onde apontamos o dedo? A resposta correta seria, não tem uma resposta correta. Tudo é uma questão de perspectiva, do lugar em que estamos vendo, o que sempre incluirá uma infinidade de limitações. Por isso é tão importante se lembrar que, embora a gente tenha quase certeza sobre algo, nunca teremos uma visão completa sobre aquilo.
A comparação é sempre infeliz, pois desconsidera um mundo que não pode ser acessado pela limitação da perspectiva em que estamos olhando.
Por fim, quando nos colocamos em um lugar de comparação, nós inevitavelmente ignoramos outros fatores que não somos capazes de enxergar. Te convido portanto a questionar:
A comparação te inspira e incentiva a continuar, ou te paralisa e te desmotiva?
Qual o motivo da comparação? O que gerou e o que te mantém nesse lugar?
Como eu me sinto ao perceber que estou me comparando?
Como dito anteriormente, talvez você não tenha o poder de controlar ou evitar a comparação, mas tem total responsabilidade com o que vem depois desse momento.
Texto original em www.juliamaiapsychologist.nl